PETRÓPOLIS
- algumas considerações sobre sua arquitetura -
por
(Esse texto somente poderá ser reproduzido ou copiado com a autorização expressa do autor)
INTRODUÇÃO:
Conhecida como Cidade Imperial,
curiosamente este título não acompanha seu desenvolvimento desde os primórdios
da fundação. Só na penúltima década do
século XX a cidade pode ostentar oficialmente esta justa honraria.
Mais do que qualquer outro
núcleo fundado ou que tenha progredido ao longo do século XIX, Petrópolis
conseguiu, de forma resumida, expressar as significativas mudanças de uma
Colônia luso-brasileira em uma tentativa de implantação de um Império nos
moldes franceses.
Aqui estão aliados, respondendo
a novos fundamentos sociais, planejamento urbano e uma nova arquitetura,
definindo cenários para um outro modo de vida que, no alto da serra, poderia
ser desfrutado por imigrantes, segmento constitutivo da camada mais pobre
local, e pela nobreza, com todo seu luxo e exuberância, que ali permaneceria
mais de seis meses por ano.
Em Petrópolis foram raras as
adaptações decorrentes da mudança de uso, pois as edificações já eram definidas
para atender a necessidades básicas, implantadas em lotes mais generosos, por
vezes dotados de água e sistema de esgotamento.
Subir a Serra da Estrela era
chegar a outro mundo, longe do calor úmido da Corte, próximo ao cais, próximo
de inquietantes epidemias e das ruas estreitas e sujas. Subir a serra era viver a vida da Corte, numa
cidade limpa, planejada, onde circulavam nobres em suas carrugens, a caminho do
próximo sarau.
Tal postura, mesmo com a
República e ainda ao longo do século XX permaneceu, fazendo de Petrópolis, após
a melhoria dos acessos rodoviários, local de veraneio em belas casas
construídas próximas ao Hotel Quitandinha, de visitas às suas sorveterias, ou
mesmo um prosaico passeio de domingo, quando curiosas crianças deslizavam (e
ainda deslizam) pelos lustrosos pisos em parquet do antigo Palácio de
Verão, agora Museu Imperial, permitindo, ainda que de forma fragmentada e
pontual, uma tênue compreensão de como Imperadores se comportavam num Império
Tropical.
DENOMINAÇÃO:
Segundo a tradição, o nome
Petrópolis (cidade de Pedro) seria uma sugestão do Mordomo da Casa Imperial,
Paulo Barbosa, em homenagem ao Imperador D. Pedro II, inspirado na cidade russa
de São Petersburgo.
LOCALIZAÇÃO/CLIMA/TOPOGRAFIA:
A cidade de Petrópolis está
situada no alto da Serra da Estrela, a 809m de altitude, nos contrafortes da Serra do Mar, no Estado
do Rio de Janeiro. Seu clima é
classificado como tropical de altitude, com temperaturas amenas, com médias
entre 14° e 23° C.
Uma característica da região é o
aumento do índice pluviométrico entre novembro e março, e também a presença de um forte nevoeiro, o
“ruço”, que cobre a cidade ao final da tarde.
A topografia da cidade,
entrecortada por vales, definiu seu modelo de ocupação original, de forma
linear, frequentemente acompanhando o leito dos rios Quitandinha e Piabanha.
HISTÓRICO:
Com a descoberta do ouro na
última década do século XVII, iniciou-se uma ocupação gradativa do interior,
cujo acesso se fazia por antigas trilhas indígenas ou bandeirantes.
Alguns caminhos tornaram-se
importantes vias de penetração e ao longo destas, diversas sesmarias foram
doadas para os primeiros ocupantes daquelas paragens.
Um destes caminhos, serra acima,
passava por onde se desenvolve a cidade de Petrópolis.
“Esta paisagem oferecia dois
aspectos bem diversos. Nos cumes, a
natureza agreste e selvagem derramava-se, verde e abrupta, pela extensão dos
picos de granito. Nas encostas, as
terras cultivadas, as herdades, as granjas, pequenos tetos e pequenos lares
onde o trabalho honesto apresentava os seus efeitos”
[2]
As sesmarias, com o passar do
tempo, dividiram-se em fazendas, hoje logradouros conhecidos da região, como
Correas, Samambaia, Quitandinha, Córrego Seco e outros.
Após a Independência, em 1822, o
novo Imperador do Brasil, D.Pedro I, em suas constantes viagens, tomou contato
com aquela região serrana, de clima ameno e agradável, onde pernoitava com
relativa freqüência nas terras do Padre Correas, que tentou, infrutiferamente,
adquirir.
“Ora, um dia em que ele vinha
com a segunda imperatriz, pousou no Córrego Seco e foi ela que louvou as
virtudes da paisagem”[3]
Recebidos por Dona Arcângela Joaquina da Silva, que
solicitamente abrigava a grande comitiva, geravam muitos transtornos e despesas,
que não passaram desapercebidos a Dona Amélia, a jovem Imperatriz educada nas
casas européias.
Atendendo às solicitações da
esposa, insistiu na compra daquelas terras, oferta recusada por D. Arcângela.
Em 1830, por indicações daquela
mesma senhora, comprou a fazenda do Córrego Seco, onde pretendia instalar um
Palácio de Verão, empresa que a abdicação, em 1831, impediu de concretizar.
Somente no segundo Reinado, seu
filho e sucessor, D.Pedro II, iria iniciar a realização do sonho do pai,
através de decisões do Mordomo da Casa Imperial, o Conselheiro Paulo Barbosa,
que havia arrendado a antiga fazenda, visando arrecadar fundos e mantê-la em
condições satisfatórias.
O Major Koeler, seu último
arrendatário, na ocasião da renovação, resolveu propor uma forma diferente de
ocupação: a instalação de uma colônia agrícola de imigrantes alemães.
A resposta veio de forma solene
com a promulgação do Decreto Imperial n° 155, arrendando a fazenda a Koeler, em
troca do levantamento da planta da futura povoação, definindo a distribuição
dos
prazos[4]
de terras aos colonos e do Palácio de Verão.
A criação de Petrópolis como
estância de veraneio e pólo de atração da nobreza deveu-se principalmente a
estas decisões. Os acessos foram
melhorados. Imigrantes alemães que
chegaram ao porto do Rio de Janeiro foram ali instalados, além do incessante
trabalho do major Koeler, que organizou a colônia de seus conterrâneos, em 1843
e três anos depois traçou o plano urbanístico da cidade e continuou a
construção do Palácio Imperial, iniciada em 1845.
Em 1844, Koeler firmou um
contrato com a firma de Dunquerque, Carlos Delmer & Cia, prevendo a vinda
de 600 casais
[5]
de trabalhadores como carpinteiros, ferreiros e pedreiros, para construção
imediata do suporte para assentar a Colônia Agrícola, empreendimento logo
frustrado pela inadequação do terreno e a viabilidade crescente do trabalho em
artesanato e indústria, sugerindo a instalação de fábricas, aproveitando a
abundância das águas da região.
Este processo iniciou-se com
produtos alimentares caseiros, como conservas, manteiga e queijo, seguindo-se a
construção de carroças.
Em 1853, várias indústrias já
estavam estabelecidas na região, como uma fábrica de tecidos, três de cerveja,
uma serraria e uma de calçados, gerando, em 1854, a fundação da Sociedade de
Agricultura e Indústria.
Ainda durante o Império, em
1883, foi fundada a Fábrica Petropolitana , na Cascatinha, que associava ao
edifício fabril, de características inglesas, a implantação de uma Vila
Operária, partido que seria adotado com frequência nos anos subsequentes,
pricipalmente após a Proclamação da República.
Petrópolis tornou-se tão
importante no segundo reinado que seria possível afirmar que dividia as
atenções com a Corte do Rio: tempo quente, família Real na serra (novembro a abril),
regressando em épocas mais amenas e menos sujeitas às doenças tropicais.
A própria viagem refletia os
ideais da época, quando o bucolismo e o pitoresco eram valorizados: tomava-se
um barco no centro
[6],
dirigindo-se até o porto da Estrela, em Magé, dali, em carruagens, subia-se a
Serra.
Mais tarde, já com a ferrovia,
na estação de Guia de Pacopaíba, no fundo da baía da Guanabara, fazia-se a
baldeação barca-trem, que em cremalheira subia os contrafortes da montanha.
Com menos de 15 anos, já se
cogitava em elevar a vila à cidade, o que ocorreu em 1857, com a formação da
primeira Câmara dos Vereadores.
Em 1861 inaugurava-se a primeira
estrada de rodagem do país, a União e Indústria, ligando Petrópolis a Juiz de
Fora e, em 1883, o trem chegava direto à cidade.
Mesmo com a República, que
frequentemente procurou obscurecer as realizações do Império, Petrópolis
continuou atrativa: lá estava localizada a residência de verão da Presidência,
o palácio Rio Negro.
Nos anos 40, um dos principais cassinos
do Estado do Rio de Janeiro ali instalou-se: tratava-se do Quitandinha,
imponente edificação “Normanda”, à entrada da cidade, inaugurado em 1944,
atraindo turistas de todo o mundo.
Até os anos 60 Petrópolis
permaneceu como agradabilíssima cidade de veraneio ou férias, longe do
burburinho do então Distrito Federal e reduto daqueles que, mais abastados,
dispunham de um local mais tranquilo para descanso e lazer.
A partir daí, com o incentivo ao
transporte rodoviário, ocorreu uma
ocupação desenfreada e irracional, com o lucro fácil como objetivo: construíram
em encostas, poluíram-se os rios, dilapidou-se o patrimônio cultural e a cidade
de veraneio transformou-se em ponto de passagem, comprometendo as vias de caixa
reduzida para o crescente volume de tráfego e a especulação imobiliária.
O TRAÇADO:
A proposta urbanística para a
cidade tratava-se de um plano original
para época: ocupação dos vales onde corriam os rios, abastecimento para as
residências e possibilidade de esgoto sanitário. Para muitos, Koeler teria utilizado a região
renana, na Alemanha, como principal referência, cumprindo seu acordo com a casa
Imperial que em seu artigo 10 estabelecia que o Major deveria “levantar a
planta da futura Petrópolis e do Palácio, ...demarcar em prazos... todo o
terreno e numerá-los”.
Os imigrantes alemães
acomodaram-se nos vales, em
quarteirões[7],
demarcados pelo Major, divididos segundo a região de procedência,
atribuindo-lhes nomes “familiares”, na maior parte das vezes em homenagem a
locias da Alemanha como Bingen, Castelânea, Ingelheim, Mosela, Nassau,
Palatinato, Renânia, Siméria, Westfália.
“Alonga-se e já se estende, num
raio de cinco a seis milhas, contornando morros, seguindo os cursos d’água, sem
direção exata, conforme os rumos obrigatórios. No centro acham-se as duas ruas principais, a
do Imperador, de traçado correto, vasta perspectiva, e a da Imperatriz, que
defronta o palácio. Duas outras ruas
nascentes, opostas às primeiras, formam com elas um quadrado quase oblongo, no
meio do qual se eleva uma colina...”[8] Além disso, o lote generoso
(prazos)
permitia uma ocupação mais racional, com preocupações com insolação e
ventilação adequadas.
O traçado original, que
parcialmente ainda pode ser detectado em alguma ruas do Centro, não resistiu às
transformações de uma Colônia Agrícola em sub-sede do Poder, ainda no século
XIX, nem às modificações mais recentes, quando uma tranquila cidade de veraneio
tornou-se via de passagem por suas ruas estreitas, e os antigos lotes que
comportavam casas com generosa implantação foram ocupados de forma predatória
por edifícios de vários pavimentos, comprometendo todo o abastecimento de água,
luz, serviços de esgotos e fluxo viário.
SISTEMAS CONSTRUTIVOS:
Com seu processo de ocupação
iniciado em meados do século passado, principalmente por imigrantes, a cidade
não apresenta uma tradição significativa de sistemas construtivos do período
colonial, inclusive pela pouca presença da mão-de-obra escrava ou lusitana,
responsável pelos edifícios da antiga Colônia.
Apenas em exemplares isolados,
como o Museu Casa do Colono, em Castelânea, ainda é possível observar as
técnicas construtivas dos primeiros colonizadores: paredes interna de vedação
em pau-a-pique, preenchidas com barro e capim, que também já fora utilizada pelos
portugueses nos primeiros tempos da colonização.
Petrópolis incorporou as
inovações técnicas advindas da Revolução Industrial, que desde 1808, com a
Abertura dos Portos, permitiu a entrada
de produtos como ferro, vidro, folha de Flandres, em grande escala, alterando
os tradicionais hábitos de construir.
É possível perceber a fusão de
processos artesanais de construção, frequentemente utilizado em fundações e em algumas paredes autoportantes (pedra e
barro) com materiais e técnicas mais modernas, como o tijolo importado e a
estrutura metálica, tanto para vencer vãos de cobertura, acrescentar varandas,
escadas, ou mesmo constituir estruturas autônomas.
Com a chegada do Ecletismo,
diversos outros materiais de acabamento, na sua maioria importados, foram
acrescentados: ladrilhos hidráulico, parquet para os pisos, azulejos nas fachadas, telhões de louça
esmaltada nos beirais, coberturas em ardósia, lambrequins debruando os frontões
dos chalés, além de requintes para interiores vindos diretamente da Europa para
ornar os salões desta sociedade que prezava o hábito de receber quase acima de
tudo. Um bom exemplo desta sofisticação ainda pode ser observado no pátio
interno na antiga residência do Barão de Mauá, próxima ao Palácio de Cristal, onde
um sofisticado sistema de catracas embutidas em colunas permite a abertura de
básculas junto à cobertura.
PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO:
O Patrimônio Arquitetônico de
Petrópolis é notável, encontrando-se ruas inteiras passíveis de preservação
pela qualidade e multiplicidade de partidos e gostos, desde o neoclássico
imperial até construções contemporâneas.
Um curto percurso por ruas
próximas ao atual Museu Imperial permite compreender o potencial deste
patrimônio: o Palácio, a casa da Princesa Isabel, a Catedral de S.Pedro,
chalés, chácaras, edifícios de ferro e vidro, edificações ecléticas,
neocoloniais, normandas, déco, modernas, construções dos anos 1970, enfim, uma variada possibilidade de apreender
a produção arquitetônica nacional, disposta em poucas quadras, que merece ser
observada em conjunto com o que resta do plano Koeler, modificando a observação
de Ribeyroles em 1860:
“Em que ponto do Rio, esplêndida queimada, se acharia
ar mais puro, clima mais salubre que Petrópolis?”[9]
ARQUITETURA OFICIAL:
Considerando a importância de
Petrópolis como sub-sede do poder, já que por cerca de seis meses por ano a
Corte ali se instalava, os edifícios construídos para abrigá-la podem ser
considerados como Arquitetura Oficial.
Por suas características
administrativas especiais, não vamos encontrar aqui a Casa de Câmara e Cadeia,
tão comum nos núcleos coloniais, e se algum exemplar de edificação pública hoje
existe, provavelmente já é decorrente da instituição da República, como a
Prefeitura, Câmara e edifícios acessórios, instalados em prédios adaptados.
O mais importante representante
da presença da Família Real na cidade é o Palácio de Verão, atual Museu
Imperial, edificação de grandes
dimensões, implantado em meio a jardins ingleses e franceses, desenhados por
Jean Baptiste Binot, sob orientação pessoal do Imperador. Seu risco original é atribuído ao Major
Koeler, desenvolvido posteriormente por Cândido Guillobel, Porto Alegre e
Jacinto Rebelo, profissionais ligados ao neoclassicismo produzido na Capital,
influenciados por Grandjean de Montigny.
Construído em 1845, apresenta fachada com dominante horizontal,
corpo central elevado em dois pavimentos destacado pela inserção de corpo
sacado, suporte do terraço apoiado em pórtico de arcos plenos marcando o acesso
principal. Este corpo é encimado por
frontão triangular com as armas do Império,
ladeado por pilastras compósitas, pintadas de branco, destacando-se do
fundo rosa do restante da edificação.
A planta é composta por corpo
central de dois pavimentos, dividindo simetricamente o conjunto em duas alas
laterais que, durante o Império, abrigava o complexo programa de residência e
local de trabalho do Imperador.
O Palácio Amarelo, atual
sede da Câmara de Vereadores, foi construído no final do século passado para
residência do Conselheiro Mayrink e após a República, em 1894, passou ao poder
da municipalidade.
Com programa adaptado às novas
funções, trata-se de edificação eclética, de dois pavimentos e fachada
simétrica, com elementos de filiação clássica, como a colunata da fachada e
duas cúpulas revestidas em ardósia. Sua
implantação diante de uma praça de grandes dimensões favorece a apreensão do
conjunto, enriquecendo a composição.
O Palácio dos Correios, edificação
eclética de gosto classicizante, já representa o gosto republicano para
edifícios públicos. Foi projetado por
Cristiano das Neves, em 1922, utilizando referências do renascimento francês
para o conjunto disposto em dois pavimentos, arrematados por telhado em ardósia
com aberturas à feição de mansardas. A sofisticação se faz presente também no
interior, onde um amplo salão é arrematado por um conjunto de vitrais
importados.
O Palácio Rio Negro,
residência oficial da Presidência da República na cidade, foi construído ao
final do século XIX, provavelmente em 1889, como residência para o Barão do Rio
Negro. Após a Proclamação da República,
o Palácio abrigou a sede do governo entre 1894 e 1902, quando Petrópolis foi a
capital do estado. Após 1902, a
edificação passou às mãos da União até nossos dias. O conjunto hoje compreende três edifícios: o
bloco central principal, em dois pavimentos, com fachada de inspiração
classicizante, um chalé lateral e uma edificação menor, na outra extremidade,
de clara influência do Renascimento Francês, de dois pavimentos, arrematada por
telhado em ardósia, com a marcação de mansardas e ornamento central
representando a “Justiça”, lembrando a época que este pavilhão, construído pelo
filho do Barão, funcionou como Tribunal da Relação.
ARQUITETURA CIVIL:
Petrópolis não apresenta muitos
exemplares do período inicial de ocupação, quando imigrantes alemães ali se
estabeleceram. Como referência, restou o
Museu Casa do Colono, onde, além da arquitetura, pode ser observado parte do
cotidiano daquela comunidade através de seus utensílios e artefatos.
No entanto, do conjunto
construído a partir da metade do século XIX, muitos edifícios chegaram até
hoje, alguns em muito bom estado de conservação.
A Avenida Koeler, projetada pelo
Major que lhe dá o nome, disposta ao longo do rio Quitandinha, aglutina boa
parte deste notável acervo, em lotes generosos, dotados de belos jardins
arborizados.
Ali podemos observar exemplos
notáveis, como a Casa da Princesa Isabel, no n° 42, antiga casa do Barão
do Pilar, construída entre 1849 e 1857 e reformada em 1877 para abrigar a
Princesa Isabel e seu marido, o Conde d’Eu.
O resultado da reforma produziu uma residência bem proporcionada,
disposta horizontalmente sobre porão alto que a destaca do jardim francês. O corpo central destaca-se pela presença de
frontão triangular apoiado sobre colunas jônicas, gerando discreto avarandado
de acesso. Sem pretensões de
grandiosidade, trata-se de um dos mais delicados exemplos de residências
neoclássicas produzidas no Brasil Imperial.
O espírito romântico apresenta-se
em exemplos como o Chalé localizado no n° 215, ou em residências como a
de n°131, ou ainda nas águias e leões dispostos juntos aos portões dos
jardins. O próprio conjunto da rua,
arrematado pela Catedral ou pela Praça da Liberdade favorece ao clima do
Romantismo.
O Ecletismo de caráter
Historicista tem seu melhor representante na Vila Itararé, edifício ao
final da alameda, junto à praça, de
feições medievais, com paredes revestidas em pedras, torreões, vitrais e arcos
ogivais.
O movimento neocolonial, que
tanta importância teve no Rio de Janeiro na década de 1920, ali deixou um marco
significativo: a residência localizada
no n° 304, com azulejos na fachada, frontões curvilíneos e a inserção de um
muxarabi
[10]
como vedação de vão.
Saindo da Avenida Koeler, por
todo o núcleo histórico e adjacências é possível encontrar exemplos
significativos da evolução da arquitetura, demonstrando que a cidade, por suas
características sócio-políticas, esteve sempre em sintonia com o que estava
acontecendo no restante do país.
Alguns exemplares merecem
destaque especial:
Palácio Grão-Pará - Atual residência da Família Imperial, a
edificação foi construída entre 1858 e 1861 para abrigar o quartel dos
“semanários”, isto é, fidalgos que se revezavam no serviço do imperador. Originalmente integrava um conjunto composto
com o Palácio, cocheiras e aposentos de serviço. Trata-se de edifício de gosto neoclássico,
com dois pavimentos, de autoria do arquiteto Teodoro Marx, da Casa Imperial,
com forte influência do Renascimento florentino.
Residência do Barão de
Mauá - A edificação,
siutada na Praça da Confluência, nº 03 foi construída na segunda metade do
século XIX, período de apogeu econômico do Barão de Mauá, que posteriormente
teve que vendê-la para saldar a sucessão de dívidas. Trata-se de edifício de
dimensões medianas, de dois pavimentos, implantada em centro de terreno, com
fachada bem proporcionada utilizando o repertório neoclássico.
Palácio de Cristal - Pavilhão que representa a arquitetura da
Revolução Industrial ou do Ferro, que adquiriu importância a partir da
Exposição inglesa de 1851. Compõe-se de
estrutura metálica, planta em cruz, com área de 224m2, vedado com placas de
vidro. Chegou ao Brasil em 1879,
inteiramente desmontado, sendo a primeira construção pré-fabricada aqui
instalada, inaugurada em 1884. Foi
produzido nas oficinas de Saint-Saveur-les-Arras, na França, e montado no Brasil pelo engenheiro Eduardo
Bonjean, com a finalidade de abrigar exposições de produtos da região. Após a
República, o pavilhão continuou com vida movimentada, abrigando bailes, museu
histórico, rinque de patinação e até corpo de bombeiros.
[11]
Residência da Família
Tavares Guerra - Palacete implantado
à Av. Ipiranga, nº 716, em centro de terreno com jardins de influência romântica,
atribuídos a Glaziou, representa o ecletismo aplicado à arquitetura utilizando
modelos vitorianos como referência principal.
Conta a tradição que o autor do projeto, procurando demonstrar sua
habilidade, criou uma fachada aparentemente simétrica, mas que apresenta sete
erros numa observação mais atenta. Em sua fachada é possível observar-se as
iniciais do primeiro proprietário, J.T.G., e uma data, 1884, que pode ser
atribuída ao período de construção.
Residência de Santos
Dumont - Pequena edificação conhecida
como “A Encantada” implantada em terreno de aclive acentuado e dimensões
reduzidas, sugerindo um “chalé” dos Alpes.
Foi idealizada por Santos Dumont e projetada pelo Engenheiro Eduardo
Pederneiras, que assina as plantas expostas no local. Vale mais pela curiosidade de seu espaço
unitário e adaptado com racionalidade e seu caráter histórico do que pelo seu
valor arquitetônico.
Conjunto Fabril da
Cascatinha - Este conjunto,
afastado do centro histórico, compunha-se, originariamente, de um complexo
composto do edifício principal destinado à fábrica de tecidos, de clara
influência inglesa, e quadras de casas destinadas aos operários, organizadas em
uma Vila, procedimento usual em estabelecimentos afins ao final do século
passado. A fábrica encontra-se
desativada e muitas das casas descaracterizadas, apesar do tombamento.
Conjunto Fabril Santa
Helena - Mais afastado do
Centro histórico, localizado no Morin, este conjunto, de tombamento recente,
construído em 1908, continua a tradição de edifícios fabris inspirados em
modelos ingleses. Também associa uma
Vila Operária, de pequenas dimensões, ao edifício principal, também bastante
descaracterizada por reformas sucessivas nas unidades habitacionais.
Grupo Escolar Pedro II - Edifício escolar projetado por Heitor de Mello,
ao final da década de 1910, de gosto neocolonial, um dos exemplares
responsáveis pela difusão deste estilo, seguindo o exemplo de outros países
latino-americanos que utilizaram repertório semelhante para seus edifícios
escolares.
Palácio Quitandinha - Notável e grandiosa edificação projetada por
Luiz Fossati e Alfredo Baeta Neves, em gosto normando, foi construído em 1944
para abrigar um Hotel-Cassino. Este
empreendimento de 50.000 m2 de área construída, 440 apartamentos, salões,
restaurantes, piscinas, foi da maior importância para implementar o turismo na
região, tornando-se conhecido inclusive internacionalmente. Com a proibição do jogo, em 1946, este
fantástico conjunto nunca mais retornou aos seus momentos de glória.
Theatro Dom Pedro (
antigo Cinema Pedro II) - Edifício com
finalidade de abrigar um cine-teatro, localizado em um dos pontos de maior
concentração do Centro, próximo ao Museu Imperial, apresenta fachada de
influência art-déco, revestida em pó-de-pedra.
Foi recuperado recentemente.
Centro Cultural Raul
de Leoni - Edifício construído
nos anos 1970, na Praça Visconde de Mauá, nº 305, próximo à Câmara dos
Vereadores, situação que compromete sua relação com o entorno. Utiliza o repertório brutalista, difundido
principalmente em São Paulo a partir dos anos 60, enfatizando o uso do concreto aparente em
grandes volumes, num predomínio dos cheios sobre os vazios.
ARQUITETURA RELIGIOSA:
Catedral São Pedro de
Alcântara[12] - Edificação eclética historicista, inspirada no
gótico francês, constitui-se, junto com o Museu Imperial, em um dos principais
símbolos da cidade. Tanto a fachada, com
a utilização do revestimento em pedra, arcos ogivais nos vãos e da torre
vertical central, quanto a planta, em forma de cruz latina, apresentando um
deambulatório
[13]
que circunda todo o perímetro interno do edifício, ou ainda a decoração
interior onde predomina a madeira escura dos confessionários e púlpitos e a
sugestão de abóbadas de aresta, marcadas em pedra sobre fundo branco, tudo
remete à este modelo de arquitetura do passado que, durante o século XIX,
constituiu-se em verdadeiro referencial para edifícios religiosos. Suas obras, iniciadas por encomenda do
Imperador em 1884, foram interrompidas com o advento da República e só
retomadas ao longo do século XX
[14].
É importante destacar que, junto ao nártex, está situada a Capela Imperial que
abriga os restos mortais de D.Pedro II, D. Tereza Cristina, a Princesa Isabel e
seu marido, o Conde d’Eu, todos
depositados em urnas ornadas por esculturas jacentes de seus ocupantes.
BIBLIOGRAFIA:
COLEÇÃO DO CENTENÁRIO
- 7 v. Petrópolis, Instituto Histórico
de Petrópolis.
DECISÃO: PETRÓPOLIS -
INFORMAÇÃO PARA INVESTIDORES.
Petrópolis, Prefeitura
Municipal de Petrópolis/FIRJAN/CIRJ/SESI/SENAI/IEL/SEBRAE, s.d.
EARP, Arthur Leonardo
de Sá. Os Quarteirões in Petrópolis: Cidade Imperial - Mapa
Turístico. Petrópolis: Petrotur, 1995.
GUIA DE PETRÓPOLIS.
Petrópolis, Castor Comunicação, jan 1997.
LACOMBE, Lourenço
Luiz. Um Resumo da História de Petrópolis in Petrópolis:
Cidade Imperial - Mapa Turístico. Petrópolis, Petrotur, 1995.
RIBEYROLES,
Charles. Brasil Pitoresco.
S.Paulo: Itatiaia. 2v.
SALGADO, Maria Luiza. As
raízes de Petrópolis in Município
de Petrópolis - 2° Distrito - Cascatinha. Mapa Turístico. Petrópolis:
Petrotur, dez 1996.
Roteiro inicial que poderá ser modificado
conforme as condições de tempo e horário de chegada
Manhã: início cerca de 8h30min
1.
Catedral
São Pedro
2.
Av.
Koeler (palacete Isabel, chalés, palacetes ecléticos, neocolonial)
3.
Praça
da Liberdade
4.
UCP /
Casa de Santos Dumont
5.
Palácio
de Cristal
6.
Catedral
Almoço ou lanche
Tarde:
7.
Museu
e adjacências.
Saída de Petrópolis: 15h
Chegada ao Rio: cerca de 16h30min.
(Esse texto somente poderá ser reproduzido ou copiado com a autorização expressa do autor)